
Nascido em 21 de janeiro de 1861, em Porto Alegre, o padre Roberto Landell de Moura construiu o primeiro aparelho sem fio para a transmissão de mensagens, em 1892, alguns anos antes de Marconi começar seus primeiros testes na Itália. Dois anos depois, ele realizou a primeira transmissão pública por meio de ondas hertzianas (na época chamada landellianas), entre o alto da Avenida Paulista e o alto de Sant’Anna, em São Paulo, cobrindo uma distância de oito quilômetros. Entre 1903 e 1904, Landell de Moura conseguiu, nos Estados Unidos, as patentes de três inventos.
Quando saiu de Porto Alegre, em 1879, Landell de Moura transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou alguns meses antes que seu irmão, Guilherme, que pretendia seguir carreira eclesiástica e estava a caminho de Roma, o convenceu a ir junto e também abraçar o sacerdócio. Na Itália, ele frequentou a Universidade Gregoriana, como aluno de física e química, matérias para as quais mostrava inclinação desde criança. Landell de Moura foi ordenado sacerdote em 1886.
Em 1893, alguns anos depois de voltar da Itália, já morando em Campinas (SP), começou a desenvolver suas ideias sobre transmissão sem fio, cujos princípios foram enunciados por ele mesmo:
1. “Todo movimento vibratório que até hoje, como no futuro, pode ser transmitido através de um condutor, poderá ser transmitido através de um feixe luminoso; e, por esse mesmo fato, poderá ser transmitido sem o concurso desse agente”.
2. “Todo movimento vibratório tende a transmitir-se na razão direta de sua intensidade, constância e uniformidade de seus movimentos ondulatórios, e na razão inversa dos obstáculos que se opuserem à sua marcha e reprodução”.
3. “Dai-me movimento vibratório tão extenso quando a distância que nos separa desses outros mundos que rolam sobre nossa cabeça, ou sob nossos pés, e eu farei chegar minha voz até lá”.
Este último princípio, naturalmente, provocou a ira de muitos paroquianos e autoridades eclesiásticas, já que insinuava a existência de vida em outros mundos e em outros planos. Seu laboratório foi, mais de uma vez, destruído. Paciente, ele reconstruía tudo e seguia com seus estudos, chegando, inclusive, a idealizar o Teletipo, o controle remoto e uma forma de transmissão de imagens – isso décadas antes do aparecimento da televisão.
Em 1900, finalmente, sempre perseguido por toda sorte de vexames e dificuldades financeiras, Landell de Moura consegue obter uma patente brasileira. Mesmo com ela, não conseguiu avançar com suas pesquisas no Brasil e partiu, em 1901, para os Estados Unidos, para tentar patentear seus inventos. Somente após três anos de muitas batalhas e burocracia ele conseguiu a patente para três de suas principais criações: o telefone sem fio, o telégrafo sem fio e o transmissor de ondas.
Com o sentimento de dever cumprido, Landell de Moura voltou ao Brasil em princípios de 1905. No retorno ao Rio de Janeiro, solicitou ao então presidente da república, Rodrigues Alves, dois navios para demonstrar seus inventos – basicamente, a possibilidade de comunicação a qualquer distância, sem a necessidade de um meio condutor palpável. Um oficial de gabinete do presidente, ao saber que o padre falava em transmissão a qualquer distância e até “entre mundos”, aconselhou o presidente a não permitir o experimento, achando que o padre era maluco. Diante da negativa disfarçada da Secretaria da Presidência da República e da dúvida que se lançava sobre a legitimidade de seus inventos, profundamente abalado, completamente desiludido, o padre Landell de Moura, num ímpeto de irritação, destruiu seus aparelhos e encaixotou seus livros, cadernos e documentos, resolvido a voltar-se exclusivamente ao sacerdócio.
Daniel Barbosa

Selo comemorativo dos 150 Anos de nascimento do padre Landell de Moura
Referências:
ALCIDES, J, “PRA-8 – O Rádio no Brasil”. Fatorama, Brasília, Brasil (1997).
ALENCAR, M. S., “O Fantástico Padre Landell de Moura”. Artigo para jornal eletrônico na Internet, Jornal do Commercio On Line, Recife, Brasil (2000).
ALENCAR, M. S., “Historical Evolution of Telecommunications in Brazil”. Project 2002-076 – Final Report, IEEE Foundation, Piscataway, USA (2003).
ALENCAR, M. S., ALENCAR, T. T. & LOPES, W. T.~A. , “What Father Landell de Moura Used to Do in His Spare Time”. In Proceedings of the 2004 IEEE “Conference on the History of Electronics”, publicado em CD, Bletchley Park, England (2004).
ALMEIDA, B. H., “O Outro Lado das Telecomunicações – A Saga do Padre Landell”. Editora Sulina, Porto Alegre, Brasil (1983).
AVELLAR, T. S., “Organização das Telecomunicações no Brasil”. Palestra proferida durante o “I Encontro Regional de Comunicações e Microondas”, UFPB, Campina Grande (1985).
CARNEIRO, G., “Brasil, Primeiro – História dos Diários Associados”. Fundação Assis Chateabriand, Brasília, Brasil (1999).
FORNARI, E., “O Incrível Pe. Landell de Moura”. Editora Globo, São Paulo, Brasil (1960).
FORNARI, E., “O Incrível Pe. Landell de Moura”. Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, Brasil (1984).
NASCIMENTO, A. & REIS, M. S, “Subsídios para Saldar uma Dívida”. Tipografia Costa Carregal, Porto, Portugal (1982).
OAKENFULL, J.C., “Brazil in 1911”. Butler & Tanner, “Frome and London”, London, Great Britain (1912).
Fonte: pesquisa de Marcelo S. Alencar, Waslon T. A. Lopes e Thiago T. Alencar para Instituto de Estudos Avançados em Comunicações (Iecom), da Universidade Federal de Campina Grande (PB), com base nas referências bibliográficas indicadas.